Mísseis russos atingem Kiev; presidente pede ajuda
Mísseis atingiram a capital ucraniana nesta sexta-feira (25), enquanto forças russas avançam. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, pediu à comunidade internacional que faça mais e afirmou que sanções anunciadas até agora não são suficientes.
As sirenes de ataque aéreo soaram na cidade
de 3 milhões de pessoas, algumas delas abrigadas em estações de metrô,
um dia depois que o presidente russo, Vladimir Putin, iniciou a invasão
que chocou o mundo.
Autoridades ucranianas disseram que uma
aeronave russa havia sido abatida e se chocado com edifício em Kiev
durante a noite, incendiando-o e ferindo oito pessoas.
Um alto funcionário ucraniano afirmou que as
forças russas devem entrar em áreas fora da capital mais tarde,
nesta sexta-feira, e que as tropas ucranianas defendem posições em
quatro frentes, apesar da desvantagem numérica.
Janelas foram destruídas em bloco de
apartamentos de dez andares, perto do aeroporto principal de Kiev, onde
uma cratera de dois metros cheia de escombros mostrou o local atingido
por disparo de artilharia antes do amanhecer. Um policial disse que
pessoas foram feridas, mas não mortas.
"Como podemos passar por isso no nosso
tempo? O que devemos pensar? Putin deveria queimar no inferno junto com
toda sua família", disse Oxana Gulenko, enquanto limpava vidros
quebrados de seu quarto. Um vizinho, o veterano do Exército soviético
Anatoliy Marchenko, 57 anos, não conseguiu encontrar seu gato que havia
fugido durante o bombardeio.
"Conheço pessoas lá, são meus amigos", disse
ele sobre a Rússia. "O que precisam de mim? Uma guerra chegou à minha
casa e pronto."
Testemunhas disseram que explosões
estrondosas puderam ser ouvidas em Kharkiv, a segunda maior cidade da
Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia, e sirenes de ataque aéreo
soaram sobre Lviv, no Oeste. As autoridades relataram fortes combates na
cidade de Sumy, no Leste.
Alvo número um
Dezenas de milhares de pessoas fugiram,
enquanto explosões e tiros abalaram as grandes cidades. Dezenas de
pessoas foram consideradas mortas. Tropas russas capturaram a antiga
usina nuclear de Chernobyl, ao norte de Kiev, enquanto avançavam sobre a
cidade procedentes da Bielorrúsia.
A agência nuclear da Ucrânia disse que registrou aumento dos níveis de radiação na extinta usina.
O presidente Volodymyr Zelensky afirmou que as tropas russas estavam atrás dele, mas prometeu permanecer em Kiev.
"O inimigo me marcou como alvo número um",
disse Zelenskiy em mensagem de vídeo. "Minha família é alvo número dois.
Eles querem destruir a Ucrânia politicamente, destruindo o chefe de
Estado."
A Rússia lançou invasão por terra, ar e mar
nessa quinta-feira, após declaração de guerra de Putin, no maior ataque a
um Estado europeu desde a Segunda Guerra Mundial.
Putin considera a Ucrânia um Estado
ilegítimo esculpido fora da Rússia, visão que os ucranianos veem como
tentativa de apagar sua história de mais de mil anos.
Os objetivos completos do líder russo
continuam obscuros. Ele diz que não planeja ocupação militar, apenas
quer desarmar a Ucrânia e remover seus líderes. Mas não está claro como
um líder pró-russo poderia ser instalado sem obter controle sobre grande
parte do país. A Rússia não divulgou nomes e ninguém se apresentou.
Depois que Moscou negou, durante meses,
estar planejando uma invasão, a notícia de que Putin havia ordenado o
ataque veio como um choque para os russos, acostumados a ver seu
governante, no poder há 22 anos, como um estrategista cuidadoso. Muitos
russos têm amigos e familiares na Ucrânia.
A Rússia reprimiu a dissidência interna no
último ano, e os principais inimigos políticos de Putin foram presos ou
fugiram. A mídia estatal tem caracterizado incessantemente a Ucrânia
como ameaça. Mas mesmo assim, milhares de russos saíram às ruas para
protestar contra a guerra, e centenas foram rapidamente presos.
Uma estrela pop postou vídeo no Instagram se
opondo à guerra, e o chefe de um teatro estatal de Moscou renunciou,
dizendo que não aceitaria seu salário de um assassino.
Nação democrática de 44 milhões de pessoas, a
Ucrânia votou pela independência na queda da União Soviética e,
recentemente, intensificou os esforços para aderir à aliança militar
ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e à União
Europeia, aspirações que enfurecem Moscou.
Os países ocidentais anunciaram sanções
financeiras a Moscou, vistas como muito mais fortes do que as
anteriores, incluindo a colocação de seus bancos em listas negras e a
proibição de importação de tecnologia. Entretanto, eles não anunciaram a
saída da Rússia do sistema SWIFT para pagamentos bancários
internacionais, o que gerou forte reação de Kiev, que diz que medidas
mais sérias devem ser tomadas.
O Conselho de Segurança da Organização das
Nações Unidas (ONU) deve votar ainda hoje proposta de resolução que
condena a invasão e exige a retirada imediata de Moscou, embora a Rússia
tenha poder de veto sobre a medida. A China, que assinou tratado de
amizade com a Rússia há três semanas, recusou-se a descrever as ações de
Moscou como invasão.
A Rússia é um dos maiores produtores de
energia do mundo, e tanto ela quanto a Ucrânia estão entre os maiores
exportadores de grãos. A guerra e as sanções vão afetar as economias de
todo o mundo.
Os preços do petróleo e dos grãos subiram.
Os mercados de ações em todo o mundo estavam, em sua maioria, se
recuperando nesta sexta-feira.
Por Natalia Zinets e Maria Tsvetkova - Repórteres da Reuters, via Agência Brasil - (25/02/2022)
